quarta-feira, 10 de junho de 2009

Educomunicação

Educomunicação na docência do ensino superior

Uma nova abordagem de ferramentas pedagógicas no ensino superior

Christofer Ferreira da Silva


Resumo

O objetivo deste trabalho é esclarecer sobre a importância da Educomunicação no processo de desenvolvimento cognitivo e social do aluno de Ensino Superior.



Introdução

Todos esses anos a educação foi centrada em um currículo que serve aos propósitos governistas e que enxergaram o ensino como apenas um mercado a ser atingido. Não se preocuparam em incluir a comunicação no currículo por diversos motivos da política de nosso país.

Na nova Lei de Diretrizes e Bases (LDB), a inserção da comunicação para a educação nos currículos, vem para acabar com uma defasagem que tínhamos em nosso sistema educacional. Defasagem essa que tem sido superada de forma natural pela sociedade contemporânea, já que alguns agentes sociais também começaram a produzir e utilizar formas alternativas de mídias para a educação, fazendo chegar nas comunidades temas da política, da economia e até empresarias.

Temos que levar em conta a relevância das tecnologias e dos meios de comunicação na sociedade e na educação e entender a educomunicação como um instrumento pedagógico. Educar de forma adequada tem como principal característica a auto-gestão do conhecimento.

Essa pratica educomunicativa não deve permanecer nesse universo extra-muros da universidade. A Educumunicação dever permear toda a comunidade acadêmica como uma da praticas pedagógicas do ensino superior.

Mas afinal o que é Educomunicação?

Chamamos aqui Educomuincação o campo de reflexão e ação que une as áreas de Educação e Comunicação Social. Tem como finalidade básica utilizar as tecnologias e linguagens das mídias para que as pessoas ou grupos se expressem mostrando a sua cultura, explicitando o que pensam e o que sentem, mais também serve para que esses indivíduos aprendam, apreendam e transformem.

Na Educomunicação os processos são mais importantes que os produtos. Os meios que escolhemos para ilustrar uma determinada situação na verdade não é o principal e sim como as pessoas envolvidas no processo assimilam as informações.

Antes de tudo, a Educomunicação pode ser considerada uma intervenção social no sentido de que o individuo vê, sente, reflete e produz sobre um determinado assunto.

O ser humano mesmo em período de gestação já sofre influência do meio social que o cerca e assim acontece durante toda a sua vida.

Aprendemos muitas coisas em todos os nossos micro-cosmos de relacionamentos, primeiro com a família – onde aprendemos as primeiras regras de convívio social, nossos primeiros conceitos morais etc. Aprendemos também a decodificar alguns signos da comunicação como os da fala e gestos.

Depois vamos para um outro patamar de convívio – a escola. Nela teremos uma série de etapas que já conhecemos, mais é nessa fase que damos um passo muito importante em nossas vidas –aprendemos a decodificar as letras. Neste caso tem-se um instrumento de comunicação em nossas mãos, não só falamos mas também escrevemos. Ou seja, tivemos uma evolução cognitiva no que diz respeito ao processo comunicacional com outros indivíduos. Só que não se pode ignorar o fato que antes mesmo de aprender a escrever a pessoa já tem contado com uma série de informações que vem de diversas mídias. Ela ouve música, assiste televisão, acessa internet etc.

O ser humano é um corpo em constante expansão, não só a expansão física de fato mais sim a intelectual.

O que quero dizer com isso?

Quero dizer que todo aluno de ensino superior chega com uma bagagem cultural de vivência e de experiências, as quais não podemos ignorar. No entanto, muitas vezes em um contexto de sala de aula, o professor não se dá conta disso e aborda alguns temas de uma forma que muitos alunos ali não conseguem contextualizar – não conseguem enxergar a situação de maneira clara.

Então o sujeito acaba não se inserindo na aula. Com isso, por um momento, ele acaba não se sentindo parte daquele micro universo, e assim vem o desinteresse.

A condição de homem (sic) exige que o individuo embora exista e aja como um ser autônomo, faça isso somente porque ele pode primeiramente identificar a si mesmo como um membro de uma sociedade, grupo, classe, estado ou nação, de algum arranjo, ao qual ele pode até não dar nome, mas que ele reconhece instintivamente como seu lar (Scruton, 1986,p.156).

Como fazer para que esses indivíduos sintam-se parte ativa deste micro universo que é a sala de aula ou o ambiente estudantil?

Muitas ferramentas já estão ai, prontas para serem consumidas e totalmente acessíveis em todos os tipos de mídias. O que se deve fazer é apenas uma seleção desse material e aplica-lo de forma contextualizada. E como estamos falando também em auto-gestão do conhecimento, é também muito pedir para que os alunos busquem esse material em qualquer formato. Pode ser um assunto proposto pelo professor, que assim fará um importante papel de mediador do conhecimento e dessa forma se apresentam várias visões do mesmo conteúdo. Neste assunto determinado pelo professo todos os alunos conseguem ter um bom nível de compreensão.

Para compreendermos ou pesquisarmos um assunto, não é preciso nos deslocar até cidades distantes ou ir até outros paises. Existem muitos componentes e mecanismos para que consigamos realizar estudos dessa natureza. Vou citar alguns exemplos:

Quando falamos que as elites econômicas e pensantes são quem ditam as regras para sociedade, e que esse grupo de pessoas não estão necessariamente no âmbito da política convencional – digo convencional porque muitas decisões em todos os meios são tomadas após muitas discussões políticas –, e que tudo isso tem impacto direto na vida de muitas pessoas. Existe um filme que ilustra bem isso, O Diabo veste Prada,uma única cena deste longa pode traduzir todo este contexto.

É a cena onde a personagem de Anne Hathaway (Andrea "Andy" Sachs) sorri quando uma assistente de Miranda Priestly (vivida por Meryl Streep) lhe mostra um par de cintos azuis dizendo que é tão difícil escolher uma vez que os dois são tão diferentes. No entanto, aos olhos de Andy, os dois cintos são muito parecidos. Então Miranda olha para ela e a indaga do que está rindo.

Andy responde:

- É que pra mim esses dois cintos são iguais...

- E... Bom!

- Eu ainda estou aprendendo sobre essa coisa.

Miranda fala:

- Você acha que nada aqui tem haver com você?

- Você vai até o seu armário e escolhe digamos... esse Suéter horroroso por exemplo! Porque está tentando dizer ao mundo que se leva muito a sério para se importar com o que se vai vestir.

- Mais o que você não sabe, é que a cor desse Suéter não é um simples azul, não é Turquesa, não é Lápis-lazúle, é azul Celeste.

- E você ignora o fato de que em 2002 Oscar de la Renta fez uma coleção de vestidos azul Celeste. Acho que foi Yves Sait Laurent que fez jaqueta militares azuis Celeste(...)

- E então o Celeste apareceu na coleção de 80 outros estilistas, então passou para as lojas de departamentos, e depois daí foi parar em lojas populares, onde você sem duvidadas comprou esse em uma liquidação.

- No entanto o azul representa milhões de dólares e incontáveis trabalhos. E é meio cômico como você pensa que fez uma escolha que a exime da indústria da moda, quando na verdade está usando um suéter escolhido para você pelas pessoas desta sala com uma pilha de coisas.

Tem um outro exemplo que considero bastante interessante, é uma música que fala de um movimento (ou tribo) urbano chamado de Função.

O Função foi um movimento urbano que surgiu nas periferias de São Paulo no inicio dos anos 80, onde os jovens, em sua maioria negros, se reuniam em festas de bairro e grandes salões de festas para dançar ouvir músicas e se confraternizarem. Mais eu poderia escrever aqui linhas e linhas sobre este movimento, mas talvez não fique tão claro para algumas pessoas o que realmente foi o Função (ou a Função). Se ouvirmos a música feita por Dexter, Mano Brown e Di Função, acredito que consigamos passar um pouco mais do sentimento que se tinha de fazer parte da Função.

Trecho da Música Eu sou Função
(...)
Muito amor, muito amor, pelo som pela cor
A herança ta no sangue louvado seja meu senhor
Que me quis descendente de raiz
Preto função sou sim, sou feliz
Favelado legítimo escravo do rítmo
Dos becos e vielas eu
amigo íntimo
Dexter o filho da música negra
Exilado sim, preso não com certeza
O
rap me ensinou a ser quem eu
E honra minha raça pelo preço que for
Dos vida
loka da história eu um a mais
Que te faz ver a paz como
sôro eficaz
No gueto jaz, o inofensivo morreu
Pela magia do
funk renasceu o plebeu
fudeu, o monstro cresceu se criô ô
Agora já era é lamentável doutor
A guerra já não é tão mais fria assim
pelos função e a função é por mim
Até o fim, "
plim", nossa luz contagia
Assim como o sol, que clareia o dia
E aquece o pivete que dorme na rua
Que passou a madrugada em claro a luz da lua
Se situa que o que ofereço é muito bom
Força e poder dom através do som
Negô, vem com nóis mais vem de coração
Por paixão, por amor não pela emoção
firmão
Pra ser função tem que ser original
Apresentando e tal mais um irmão leal (...)


Nestes dois exemplos ocorre o mesmo:

A aprendizagem se dá na medida em que o individuo sente-se tocado, envolvido conectado. Dessa forma o ambiente mediado pelos instrumentos midiáticos podem ajudar a fazer com que as situações tenham sentido, tornando, assim, estas mídias, grandes mediadoras do conhecimento juntamente com o professor.

Ter um entendimento dos processos e ver sentidos neles é que faz com que as pessoas aprendam e não só a aplicação ou utilização de tecnologia E é por este motivo, que o campo compete à educação e a comunicação.

As pessoas estão inseridas em um novo contexto de sociedade, permeadas por todos os lados de tecnologias, o mundo é audiovisual.

O cidadão individual tornou-se enredado nas maquinarias burocráticas e administrativas do estado moderno.

Emergiu então uma concepção mais social do sujeito. O individuo passou a ser visto como mais localizado e “definido” no interior dessas grandes estruturas e formações sustentadoras da sociedade moderna.

(STUART HALL, 2004, p.30).

Como diria Ismar Soares (Coordenador-geral do NCE/USP):

(...) A comunicação, de simples conjunto de instrumentos, transformou-se em processo da construção simbólica voltada à mobilização social, permitindo, em seu percurso, a ampliação da capacidade de expressão de todos os membros de um dado ecossistema comunicativo.

A Educomunicação é um conjunto de ações e reflexões inerentes a “cadeias comunicativas” que permite uma pratica de troca dos conhecimentos aberta e com constantes colaborações, que é possível garças a uma prática democrática dos recursos da informação.

Em uma sociedade moderna onde pessoas carregam consigo verdadeiras estações de trabalho, que antes só era possível ter em um escritório, hoje tudo está dentro do bolso ou na palma de sua mão. Não é possível que ignoremos todos esse efeitos de um mundo tecnológico e deixemos de colocar em prática uma gestão educacional que olhe para isso como um aliado na produção do conhecimento.

Hoje não é só totalmente possível que utilizemos produtos de varias mídias para que possamos ilustrar partes do conhecimento – o que compete ao professor gerir – como também é plenamente crível que os alunos produzam esses materiais e levem para sala. Neste caso os discentes podem socializar informações com seus colegas e professores. Tudo isso com uma ferramenta que considero extraordinária que é o celular, onde você pode gravar sons, imagens e ainda comunicar.

O exercício da expressão comunicativa por parte dos indivíduos além de se tornar uma prática de auto-gestão do conhecimento é também um ato de cidadania.

A prática educomunicativa é adotada em ONG´s, em centros culturais, secretarias de cultura e meio ambiente etc.

(...) A cultura é agora o meio partilhado necessário, o sangue vital, ou talvez, antes, a atmosfera partilhada mínima, apenas no interior do qual os membros de uma sociedade podem respirar e sobreviver e produzir. Para uma dada sociedade, ela tem que ser uma atmosfera na qual podem todos respirar, falar, e produzir (...)

(Gellner, 1983, p. 37- 38).

Esta é uma prática que deve se fazer presente também junto às universidades, para que haja um verdadeiro crescimento intelectual e social dos alunos do ensino superior do Brasil.

Referências Bibliografias:

GELLNER, Ernest. Nações e nacionalismo"O fenômeno do nacionalismo. Os seus diferentes "sabores" europeus. 1997.

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós modernidade. 2004.

Sites

http://www.controlesocial.org.br/boletim/ebul11/tem_verde_2.html

http://www.portalgens.com.br/educom/

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